O ascetismo segundo Nietzsche

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No terceiro ensaio da obra Genealogia da Moral (1887), Nietzsche coloca a seguinte questão: “Qual é o significado dos ideais ascéticos?”. Por que as pessoas de várias culturas perseguiram uma vida ascética de abnegação? Nietzsche sugere que o ascetismo aumenta o sentimento de poder ao dar a uma pessoa o controlo total sobre si mesma. Em muitos casos, então, o ascetismo é, em última instância, a afirmação da vida e não a negação da vida. Os ideais ascéticos manifestam-se de maneiras diversas em diferentes tipos de pessoas. Uma espécie de ascetismo filosófico leva os filósofos a afirmar que o mundo ao seu redor é ilusório. Esta é uma maneira de ver as coisas, e Nietzsche aplaude isso, isto é, o olhar para as questões de tantas perspectivas quanto possível. Não há uma única maneira correta de olhar para a verdade, então é melhor sermos flexíveis nos nossos pontos de vista.

 

Asceta

 

Nietzsche vê o ascetismo como sendo uma doença espiritual. Aqueles que acham que a luta da vida é muito difícil, voltam-se contra a própria vida e consideram-na culpada. Dizendo por outras palavras, as pessoas psicologicamente ou fisicamente fracas condenam a própria vida pela sua fraqueza e hesitação em agir, numa clara tentativa de sobrevivência psicológica. Para evitarem admitir que são fracos e inferiores, os ascetas culpam a própria vida, como que dizendo «a vida é a culpada por eu existir e não ser forte e poderoso».

 

Nietzsche vê a maioria da humanidade como doente e vê os sacerdotes como os médicos que também estão doentes. A religião aborda esta doença espiritual, em parte, extinguindo a vontade através da meditação e do trabalho, mas também através de “orgias de sentimento”, manifestadas na consciência do pecado e da culpa. Nietzsche também considera que a ciência e erudição não são alternativas aos ideais ascéticos da religião. Elas simplesmente substituem a adoração de Deus pela adoração da verdade. Um espírito saudável deve questionar o valor da verdade. Nietzsche conclui observando que enquanto os ideais ascéticos direcionam a vontade contra a vida, eles ainda constituem um exercício poderoso da vontade: “O homem prefere querer o nada a nada querer”.

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